sábado, 9 de janeiro de 2010

× E o sentimento quebra tudo aquilo que eu prometi.


Uma vez me disseram que, já no berço nós desejamos a fome humana. Se no berço experimentei esta fome humana, ela continua a me acompanhar pela vida afora, como se fosse um destino. A ponto de meu coração se contrair de inveja e desejo quando vejo uma freira: ela pertence a Deus. Exatamente porque é tão forte em mim a fome de me dar a algo ou a alguém, é que me tornei bastante arisca: tenho medo de revelar de quanto preciso e de como sou pobre. Sou, sim. Muito pobre. Só tenho um corpo e uma alma. E preciso de mais do que isso. Faz de conta que ela nao estava chorando por dentro - pois agora mansamente, embora de olhos secos, o coração estava molhado; ela saíra agora da voracidade de viver. Por seco e calmo ódio, quero isso mesmo, este silêncio feito de calor que a cigarra rude torna sensível. Sensível? Não se sente nada, senão esta dura falta de ópio que amenize. Quero que isto que é intolerável continue porque quero a eternidade. É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo. Minha alma tem o peso da luz. Tem o peso da música. Tem o peso da palavra nunca dita, prestes quem sabe a ser dita. Tem o peso de uma lembrança. Tem o peso de uma saudade. Tem o peso de um olhar. Pesa como pesa uma ausência. E a lágrima que não se chorou, tem o imaterial peso da solidão no meio de outros. Então, chego a coclusão que o amor é tão mais fatal do que eu havia pensado, o amor é tão mais inerente quanto a própria carência, e nós somos garantidos por uma necessidade que se renovará continuamente. O amor já está, está sempre. Falta apenas o golpe da graça - que se chama paixão.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

× A minha perfeita imperfeição.


Uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora de minha própria vida. Foi apesar de que parei na rua e fiquei olhando para você enquanto você esperava um táxi. E desde logo desejando você, esse teu corpo que nem sequer é bonito, mas é o corpo que eu quero. Mas quero inteira, com a alma também. Por isso, não faz mal que você não venha, esperarei quanto tempo for preciso.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

× Algum dia.


Fui me encontrar em seu olhar e me sentir apaixonada, era menos frágil junto a você. Mas tudo era mentira, você se foi da minha vida, e me perdi, revivo viva a sua memoria, me faz mal se penso em você, estou triste, mas estou de pé. Ainda que tenha me esquecido, sei que cedo ou mais tarde, vai entender o quanto eu te amei! Algum dia sem pensar vai sentir saudade, algum dia, uma manhã, sentirás que faço falta, em seu interior vai sentir amor, ninguém sabe o que tem até que no final perdê-lo. Cada vez que volto a te ver, não nego, ainda me doi, mas sei que um dia estarei bem. Ainda que tenha me esquecido sei que cedo ou mais tarde, vai entender o quanto eu te amei :~

× Por que?


Eu estou aqui. Mas será que estou mesmo? Hoje é o dia que me fez voltar até você, relebrando tudo o que aconteceu. Adeus? Claro que não. Por que você insiste em estar aqui? Por que você não vai embora? Por que eu ainda choro pensando em você?
Será que isso nunca vai acabar? Já faz tanto tempo, e eu simplesmente custo acreditar que não é você que vai me salvar de tudo.
Você me quebrou, e por sua culpa eu não consigo me consertar mais. Existem pedaços que eu não pude juntar, e muito outros que não houve consertos. As feridas que foram abertas, que eu acreditava que já estavam cicatrizadas se abriram de novo, na mesma intensidade, acho que até mais fundos. Por que eu não consigo deixar você ir embora? Por que me custa aceitar que acabou? Por que meu coração e minha mente não apagam o seu maldito olhar de mim? Por que eu não consigo dizer adeus pra você? Por que eu ainda amo você? :~

× Sóbria?


Estou segura aqui em cima, nada pode me atingir. Mas por que sinto que a festa acabou? Não sinto dor, aqui dentro, você é a perfeição, mas como vou me sentir bem, estando sóbria? Descendo, descendo, descendo... Girando, girando, girando... Procuro por mim mesma estando sóbria! Quando a coisa tá boa... fica tão boa até que enjoa... Até você encontrar o seu "eu" que já existiu. Já me ouvi chorar, dizendo "nunca mais", angustiada, tentando encontrar um amigo...

× Me, myself and I.


Eu sou só eu... O stress, a rotina, a dormência, um nó. Um grito mudo, um choro sem lágrimas, eu não me entendo! O meu corpo reage e esmorece... Fico só, porque meu corpo é só corpo! E a minha alma, ausente e inquieta; que quer ficar... Mas foge de mim, sem vencer a tirania da minha mente cansada. A nostalgia vulnerável que é essa minha mente. Pessoas cultas e inteligentes sabem, que o homem por definição é dispensável, transitório, efêmero, aquilo que passa, e isso é bastante real. Em todas as relações que temos hoje, somos substituíveis! O mundo sempre existiu antes de nós, está existindo conosco e continuará existindo sem nós. Somos necessários aqui e agora, mas seremos dispensáveis além e depois.
By: DCR.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

× Por que você o ama?


Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela têm, caso contrário, os honestos, simpáticos e não fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo a porta. O amor não é chegado a fazer contas, não obedece à razão. O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar. Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são só referenciais. Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca. Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera.
Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai e não liga, ele veste o primeiro trapo que encontra no armário. Ele não emplaca uma semana nos empregos, está sempre duro, e é meio galinha. Ele não tem a menor vocação para príncipe encantado e ainda assim você não consegue despachá-lo. Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga. Ele toca gaita na boca, adora animais e escreve poemas. Por que você ama este cara? Não pergunte pra mim; você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais. Gosta dos filmes dos irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia romântica também tem seu valor.
É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas no lugar. Independente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta de viajar, de música, tem loucura por computador e seu fettucine ao pesto é imbatível. Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém e adora sexo. Com um currículo desse, criatura, por que está sem um amor?Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemática: eu linda + você inteligente = dois apaixonados. Não funciona assim. Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o Amor tem de indefinível. Honestos existem aos milhares, generosos têm às pencas, bons motoristas e bons pais de família, tá assim, ó! Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida é! Pense nisso. Pedir é a maneira mais eficaz de merecer. É a contingência maior de quem precisa.

(Porque ele não precisa de mim)

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

× Estrutura de tempo inquebrável.


Deus ajuda quem cedo madruga. Assa-se o pão enquanto o forno está quente. Quem vacila está perdido. Não dá pra firgirmos que ouvimos quem nos avisou. Ouvimos os provérbios, os filósofos, ouvimos nossos avós nos avisar sobre o tempo perdido, ouvimos os malditos poetas nos urgindo a aproveitar o dia. Mesmo assim, as vezes precisamos ver com nossos próprios olhos. Temos que cometer nossos próprios erros. Temos que aprender nossas próprias lições. Temos que varrer as possilibilidades de hoje pra debaixo do tapete de amanhã até não podermos mais, até finalmente entender o que Benjamim Franklin quis dizer: que saber é melhor do que imaginar. Que acordar é melhor do que dormir. E que até mesmo o pior fracasso, até o pior e irremediável erro, é mil vezes melhor do que nunca tentar.

× A gente se acostuma;


Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos e não ver vista que não sejam as janelas ao redor. E porque não tem vista logo se acostuma a não olhar para fora. E porque não olha para fora, logo se acostuma e não abrir de todo as cortinas. E porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, se esquece do sol, se esquece do ar, esquece da amplidão.A gente se acostuma a acordar sobressaltado porque está na hora. A tomar café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder tempo. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.
A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E não aceitando as negociações de paz, aceitar ler todo dia de guerra, dos números, da longa duração.
A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: “hoje não posso ir”. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisa tanto ser visto.
A gente se acostuma a pagar por tudo o que se deseja e necessita. E a lutar para ganhar com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagará mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.
A gente se acostuma a andar nas ruas e ver cartazes. A abrir as revistas e ler artigos. A ligar a televisão e assistir comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.
A gente se acostuma à poluição, às salas fechadas de ar condicionado e ao cheiro de cigarros. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam à luz natural. Às bactérias de água potável. À contaminação da água do mar. À morte lenta dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinhos, a não ter galo de madrugada, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta por perto.
A gente se acostuma a coisas demais para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta lá.Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente só molha os pés e sua o resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito que fazer, a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem muito sono atrasado.
A gente se acostuma a não falar na aspereza para preservar a pele. Se acostuma para evitar sangramentos, para esquivar-se da faca e da baioneta, para poupar o peito.
A gente se acostuma para poupar a vida.
Que aos poucos se gasta, e que, de tanto acostumar, se perde de si mesma.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

× Nós,

perdemos o mundo e o mundo nos perdeu. O que parece a você? Quando eu tenho você ao meu lado, o que me falta? Se todo o mundo estivesse à nossa volta, eu só veria você.